Spaghetti Presentation
Final do dia, aos poucos vamos regressando para casa, primeiro o Marco, depois o Federico, depois chego eu e por fim o Fabrizio.
Éramos todos estudantes universitários em Siena-Itália. Após a labuta diária entre aulas, bibliotecas e estudos regressávamos à casa que partilhávamos.
Fabrizio o cozinheiro da casa vai logo nos avisando que teremos convidados para o jantar (como acontecia com frequência), depois de uma rápida olhadela nos armários de cozinha e o frigorífico ficou decidido que eu ia com o Marco ao minimercado da esquina comprar spaghetti, tomates e um vinhozinho para acompanhar.
Fabrizio tinha o dom da cozinha e com pragmatismo e celeridade conseguia combinar o que havia em casa com mais algumas coisinhas num prato delicioso (nunca sobrava nada, nem para o gato que não tínhamos).
A quem lhe perguntava qual o seu segredo na cozinha, dizia “Il segreto é cucinare con amore”.
Mas, como exprimia esse “amore”?
Fabrizio tinha sempre em mente e sabia ler os convidados para o jantar. Assim na escolha dos ingredientes na forma de cozinhar, nos temperos a usar, viajava na mente de cada um identificando o que lhe faria prazer e o que gostaria.
Cozinhar com amor em suma era pensar antes, durante e depois nos convidados. Assim o cozinheiro se preparava cantarolando canções que evocavam bons fluidos nos convidados, buscava mentalmente os argumentos/discussões para apimentar o aspeto social (sejam de política, desporto, emoções …), sempre de acordo com quem vinha para jantar.
É com as pessoas que queria começar esta série sobre “como fazer apresentações de sucesso”.
As pessoas, a plateia ou público-alvo são os ingredientes básicos de uma apresentação. Sem elas não há uma apresentação (seria um monólogo).
Mais à frente veremos a preparação da mensagem para uma apresentação de sucesso (receita).
Se as pessoas são os ingredientes básicos a primeira coisa que temos que pensar como apresentadores é lhes identificar. Inicialmente a organização do evento/workshop/seminário que nos convidou para apresentar podes nos dar algumas pistas do tipo: o público-alvo são quadros técnicos da área da saúde …
Para além disso, poderão especificar que virão pessoas do Interior de Santiago (Tarrafal, Assomada), das Ilhas (S. Vicente, S. Nicolau e S. Antão), com idade compreendida entre 25-38 anos, na sua maioria mulheres, etc.
Essa primeira segmentação do público-alvo, em termos de género, idade e demografia pode ajudar, mas não basta.
O nosso cozinheiro Fabrizio na preparação do seu manjar tinha o cuidado de não meter muita malagueta pois sabia que a Giovanna não gostava, preparava um prato paralelo só com verduras pois vinha também o Alberto que era vegetariano e tirava desde já do congelador o tiramissú pois a Monica gostava dele tipo mousse.
Assim como o nosso cozinheiro que conhecia nos detalhes os gostos e prazeres de cada um dos convidados, o apresentador não deverá se contentar com informações básicas de segmentação da plateia.
É obrigação do apresentador para ter sucesso pesquisar, pesquisar sobre a sua plateia.
Sei que nem sempre é possível ter na nossa plateia só pessoas que já conhecemos ou temos alguma intimidade e que possamos identificar até pelo nome, mas isso não deverá impedir o apresentador que quer ter sucesso de pesquisar.
Pesquisar o quê?
Vai nas páginas de Facebook e vê os posts que a pessoa faz ou causas em que se envolve. Tenta saber mais sobre o dia-a-dia, hora-hora das vidas dessas pessoas.
Se são pessoas que trabalham na área da saúde investiga para saber aonde, se nos hospitais, centros de saúde, delegacia de saúde …
Pesquisa qual os problemas e desafios podem encontrar nas suas vidas. Se trabalham por turnos, de quantas horas. Quanto ganham por mês, como gastam o seu dinheiro?
O apresentador deverá tentar se meter no lugar destas pessoas e pensar e viver do ponto de vistas delas.
Como diz um ditado Italiano “Il mondo é bello perche è vario” (o mundo é bonito porque tem variedades), vai ser difícil conseguirmos ter uma panorâmica única da plateia que caracteriza todas as pessoas.
Nesse caso dentro da plateia o apresentador terá que procurar mais segmentos. Por exemplo dentro do pessoal da área da saúde pode-se encontrar:
– Pessoal enfermeiro no início de carreira;
– Médicos com mais de + 10 anos de experiência;
– Técnicos de saúde que trabalham no hospital central …
As necessidades, os pontos de vistam desses segmentos podem ser diferentes.
Para trazer um exemplo real, quando em 1986 na época de Ronald Reagan como presidente dos Estados Unidos a nave espacial “Challenger” caiu após 73 segundos da descolagem, Ronald Reagan conduziu uma comunicação à nação segmentando-a para os públicos seguintes:
– Às famílias das vítimas do desastre, fazendo condolências e chamando nome por nome os 7 astronautas;
– Às crianças dos Estados Unidos que pelo facto de na nave espacial haver uma professora (pela primeira vez no espaço) e que deveria comunicar com as crianças das escolas do espaço. Pelo facto de se ter criado muita expectativa com a professora houve uma adesão em massa de crianças para seguir o lançamento do “Challenger”;
– À NASA, a agência espacial dos Estados Unidos para transmitir conforto e motivar apesar do desastre;
– À então União Soviética, fazendo uma critica diplomática ao secretismo no seu programa espacial que se partilhado poderia evitar o desastre;
– Aos membros do congresso para justificar o clássico discurso anual “State of the union” – Estado da Nação, que deveria ser proclamado pelo Presidente nessa data.
Ronald Reagan, um grande comunicador vivia um momento inesperado e delicado com o desastre do “Challenger”. O lançamento tinha sido adiado por duas vezes, mas sob a insistência do governo foi programado o lançamento antes do momento político tópico – Estado da Nação.
O “Challenger” também transportava, pela primeira vez, um civil (uma professora que deveria comunicar com os seus alunos desde o espaço) o que criou uma grande mobilização de crianças dos 6-13 anos para esse lançamento.
Após o desastre Ronald Reagan tinha de servir-se como conforto para toda a nação que estava chocada e de luto assim como para os familiares das vítimas do desastre de que não podia saber o que viviam e das crianças que viram o “Challenger” se desintegrar em directo na TV.
Além disso, Reagan não podia se dissociar-se das suas obrigações como presidente e líder da nação.
Como segmentar a plateia?
Ao procurar os segmentos que compõem a plateia, o apresentador deverá tentar identificar os grupos de forma a terem maior representatividade dentro do bolo global e que possa melhor adotar a perspetiva da sua mensagem e com isso ajudá-lo a distribuí-la.
Em resumo o apresentador poderá na sua pesquisa navegar nas seguintes dimensões para segmentar e melhor conhecer a sua plateia e as pessoas que a compõem (Quem são; Conhecimento; Motivação e desejos):
- Quem são essas pessoas (tipo de vida + valores)?
Tipo de Vida
– O que tem de especial e o que nos fazem gostar delas?
– Como me sentiria se me colocasse no lugar delas?
– Aonde vão para se divertirem (na vida e na web)?
– Como é o seu estilo de vida?
Valores
– O que é importante para ela?
– Como passam o seu tempo e como gastam o seu dinheiro?
– Quais são as suas prioridades?
– O que as une e o que as separa?
- Conhecimento
– O que já sabem sobre o assunto a ser apresentado?
– De que fontes recebem conhecimento?
– Que preconceitos podem ter (bons ou maus)?
Influência
– Quem ou o quê influência o seu comportamento?
– Que experiências influenciaram os seus pensamentos?
– Como é que tomam decisões?
- Motivação e desejos
– O que ela precisa ou deseja?
– O que está a fazer falta na sua vida?
– O que a faz levantar-se da cama de manhã cedo?
Respeito
– Como é que dão e recebem respeito?
– O que podes fazer para fazê-la sentir-se respeitada?
Vimos ao longo deste artigo que é preciso ter atenção à plateia e que o apresentador deverá pesquisar muito para se meter no lugar da plateia. Deixo-vos agora por alguns momentos pois começam a chegar os convidados para o jantar.
Aquele abraço e bom fim de semana,
Nuno