“Um leão, cansado de tanto caçar, dormia à sombra de uma boa árvore. Vieram uns ratinhos passear em cima dele e ele acordou.
Todos conseguiram fugir, menos um, que o leão prendeu embaixo da pata. Tanto o ratinho pediu e implorou que o leão desistiu de esmagá-lo e deixou que fosse embora.
Algum tempo depois, o leão ficou preso na rede de uns caçadores. Não conseguia se soltar, e fazia a floresta inteira tremer com seus urros de raiva.
Nisso, apareceu o ratinho. Com seus dentes afiados, roeu as cordas e soltou o leão.”
A fábula em cima tem mais de 2.500 anos e é atribuída a Esopo, um contador de histórias que também escreveu outras estórias memoráveis como “A lebre e a tartaruga”, “O pastor mentiroso e o lobo” e dezenas de outras.
As histórias de Esopo não estariam ainda a circular se não tivessem dentro verdades humanas profundas. No caso da história do “Leão e o rato”, o que está em jogo são dois valores: a generosidade e o valor da vida em comunidade. Também é verdade que para além dos valores humanos a forma concreta como foi codificada a mensagem importa.
Mas como fazemos podemos codificar a nossa mensagem para ser concreta?
Repara, que em si a palavra “generosidade” é muito abstrata, o mesmo se pensarmos em “valor de viver em comunidade”, mas ao fazer as coisas concretas como Esopo ensina:
Quando o rato precisou de ajuda, o leão o acudiu, algum tempo a seguir, quando foi a vez do leão estar em apuros, o rato esteve lá prontamente disposto a o amparar.
Acho que a resposta está mais do que evidente nas histórias de Esopo, temos de formular a mensagem com objetos, animais, gestos, pessoas e palavras que evoquem imagens e coisas tangíveis.
É sabido que os asiáticos são melhores em matemática do que o resto do mundo. A razão não tem a ver com o preconceito que estudam demais, memorizam como robôs ou outras lendas metropolitanas. O que distingue é a forma como lhes é ensinada matemática desde a escola primária. Um típico professor quando vai ensinar a – substração – algo que é abstrato faria assim:
Colocaria 10 pedras em cima da mesa e depois recolhia com a mão 3 dessas pedras e escreveria no quadro 10 – 3 = 7 enquanto dizia o resultado correto.
Ou diria:
Suponhamos que tens 500 escudos e vais à papelaria e compras um caderno que custa 150 escudos, com quantos irias ficar? Enquanto escreve no quadro X = 500 – 300.
Vejamos quanto concreto é o método dos asiáticos, ao colocar as pedras sobre a mesa está a fazer uma ação concreta com pedras em cima da mesa (outro objeto tangível) e com a mão retira 3. No outro exemplo traz um contexto familiar e concreto (de ir comprar cadernos à papelaria).
O que dizer então da passagem bem conhecida, memorável e concreta do livro de Manuel Lopes – Chuva Brava – “quando a carne dele entrou …” que inspirou o título deste artigo. Ninguém, se lembra de outras passagens do livro (talvez alguns eruditos), podes ter estudado o livro 30 anos atrás mas ainda te lembras da passagem.
“Concreto é mais fácil de lembrar”
Muito famoso o slogan do Presidente americano – Kennedy – quando motivava o país após os soviéticos terem conseguido ir ao espaço (antes deles) “Pôr um homem na lua numa década”.
Quando a empresa Boeing nos anos 1960 queria fazer o 727 a equipa de gestão estabeleceu um objetivo muito concreto:
“O Boeing 727 deve levar 131 passageiros, voar sem parar de Miami a Nova York, e aterrar na pista 4-22 de La Guardia (Aeroporto de Nova York).”
A pista 4-22 foi escolhida pelo seu comprimento (um pouco mais de 1 quilómetro).
Com objetivos tão concretos como esse a Boeing conseguiu efetivamente coordenar milhares de experts na área de engenharia e outras expertises nas suas fábricas. Imagina quanto seria difícil se a gestão tivesse definido um objetivo abstrato como: “ser o melhor avião de passageiros construído”.
“Concreto estimula a coordenação”
Para amarrar este tema, sobre os benefícios de construir a tua mensagem, de forma concreta, deves-te recordar que fazer as coisas concretas não quer dizer “baixar o nível”, pode-te assar pela cabeça que o tema da tua apresentação é um conceito difícil de explicar e que não podes “baixar o nível “contando histórias ou aplicando uma linguagem concreta, mas, CONCRETO é universal, toda a gente percebe e terias mais sucesso nas tuas apresentações.
Aquele abraço,
Nuno