Todos já o ouvimos no avião, o clássico anúncio de segurança que vai mais ou menos nestes termos: onde as saídas de emergência estão, o que fazer em caso de uma “queda brusca de pressão”, como usar o colete salva-vidas e porquê não devemos fumar nos lavabos (dispara o alarme).

Embora importante, após algum tempo viajando acabamos por nem prestar atenção ao que a assistente de voo está a dizer.

E se te pedirem para fazer um anúncio de segurança no avião? Pior ainda, e se precisares realmente que as pessoas te escutem? Como irias fazer?

 

Vamos ver de seguida um anúncio que ouvi uma vez numa viagem:

 

 

       Se puder ter a vossa atenção por alguns momentos, adoraria vos apontar as medidas de segurança no nosso voo. Se você não esteve num automóvel desde 1965, a maneira correta de colocar o cinto de segurança é deslizar a parte lisa dentro da fivela. Para abrir levante para cima a fivela que irá abrir o cinto.

 

       Como diz uma famosa canção, podem existir mais de 50 formas de deixar o seu amante, mas existem somente 6 maneiras de sair deste avião: duas portas à frente, duas portas na altura das asas e duas ao fundo do avião. A localização de cada porta de emergência está claramente marcada com sinais luminosos no teto assim como ao longo das luzes do corredor.

 

 

Não levou muito tempo para os passageiros alinharem a sua atenção no anúncio engraçado. Após terminada a comunicação partiu o aplauso no avião.

 

O primeiro problema da comunicação é captar a atenção das pessoas. Alguns comunicadores tem a autoridade para comandar atenção. Os pais são bons nisso: “Paulo, olha para mim!” Na maioria das vezes não conseguimos comandar atenção dos outros.

 

A forma mais básica de captar a atenção das pessoas é quebrando esquemas e padrões pré-concebidos. Os anúncios tradicionais de segurança no avião não nos interessam muito porque como ser humanos nos adaptamos rapidamente a padrões consistentes e temos a tendência em desligar. Pensa por exemplo o barulho do ar condicionado, ou o cheiro de uma vela ou incenso. Só nos damos conta por exemplo do ar condicionado quando alguém o desliga, isto é, quando alguém quebra o padrão/esquema.

 

A assistente de bordo na história acima captou a atenção dos passageiros porque quebrou um padrão do anúncio de segurança que os passageiros tinham ouvido várias vezes.

 

Por isso, que muitas vezes nas apresentações resulta partir por exemplo a contar diretamente uma história: “Caminhava pela avenida rumo ao templo, quando pelo caminho encontrou uma menina acompanhada da mãe que …”, em vez das introduções padrão habituais: “Antes demais queria cumprimentar os presentes e agradecer o convite que me foi formulado …”

 

Isso também se aplica na construção da tua mensagem da tua apresentação, pensa como a podes fazer inesperada para a plateia, quebra o padrão e garantes captar a atenção.

 

O nosso cérebro está afinado para detetar mudanças, pensem por exemplo nas sirenes da polícia ou ambulância que uma vez tinham um som monótono e repetitivo em duas notas (nii nóó, nii nóó, nii nóó). Agora a sirene tem uma complexidade de tons muito maior e erráticos que nos surpreende e capta mais a nossa atenção por não ter um padrão consistente.

 

Este artigo focaliza em duas questões essenciais: “Como posso captar a atenção das pessoas?” Mas, também critica é “Como posso mantê-la?”

 

Para responder a estas duas questões temos que ter em conta duas emoções humanas – surpresa e interesse:

 

            Surpresa capta a nossa atenção.

 

           Interesse mantém a nossa atenção.

 

 

Do lado de manter a atenção, pensa como fazem os compositores a organizar o ritmo da música de forma a criar “gaps” na mente da plateia. Revelas algo, mas, não tudo e de forma que deixe um vazio na mente da plateia. Pela natural tendência humana de querer saber como vai acabar ela se interessa e mantém a atenção.

 

Ritmo 1:

 

“Caminhava pela avenida rumo ao templo, quando pelo caminho encontrou uma menina acompanhada da mãe que …”

 

Ritmo 2:

 

“ … pediu ao bom homem uma das suas laranjas oferecendo em troca flor que levava nas suas mãozinhas …”

 

Ritmo 3:

 

“O homem aceitou a flor e ofereceu a sua laranja à menina, e, prosseguiu no seu caminho encontrando uma anciã sentada na soleira da porta …”

 

Ao longo dos ritmos vais revelando, vais revelando, enquanto que ao mesmo tempo a plateia não consegue descortinar o que virá a seguir (crias o gap na sua mente) e isso mantém o interesse que por seu lado mantém a atenção.

Regra geral, abres gap (para manter o suspense e interesse) e fechas o gap (revelas), e, abres outro gap e fechas …

Espero tenham gostado de mais esta peça no puzzle da construção da nossa mensagem para as nossas apresentações.

 

Aquele abraço,

Nuno